Ruas da Amargura de Rui Simões.
Não esperava ter oportunidade para ver isto no cinema. Algo deste nível numa casa de espectáculos da Madeira é difícil.
Quebrei violentamente uma regra pela qual tento me reger, desde que à muito a li no 1º parágrafo de uma obra muito bem conhecida de F. Scott Fitzgerald. Aqui vamos:
Mal vi as pessoas que estavam para ver o filme/documentário fiquei com a sensação que não eram o tipo de gente com interesse genuíno em ajudar ninguém. Calma, sei que havia excepções, até porque conheci uma. Mas regra geral no teatro estavam alguns focos de energúmenas. Aquele tipo de pessoa que melhora a auto-estima com a desgraça alheia, que não entende a desgraça alheia (mesmo que o seu trabalho dependa disso), que estava lá para as pessoas pensarem que são boas profissionais ou porque... é "chique".
E isto ficou comprovado com as gargalhadas que vou classificar (benevolentemente) como atrozes. Sim o filme tem momentos cómicos e relatos feitos de uma forma engraçada, mas, e perdoem-me (talvez) a falta de humor ou outra falha da minha personalidade que não me permita desatar a rir às gargalhadas quando um toxicodependente à provavelmente mais de 16 anos (esta dedução é minha e sei não estar longe do nº correcto) conjuga mal o verbo "andar" no Presente do Indicativo, na 3º pessoa do plural.
"Eles andem" = incorrecto;
"Eles andam" = correcto.
No mesmo desabafo este mesmo senhor, pronunciou o nome do nosso Primeiro Ministro Engº Sócrates da seguinte maneira: "Sócratus".
Aparentemente a cereja no topo do bolo para estas "profissionais" foi a palavra: "Cidadões".
Mais um erro, seria "cidadãos". Não que estas "profissionais" soubesse o significado da palavra mesmo quando proferida correctamente.
Estou a me referir no feminino, porque estas gargalhadas eram (pelo menos as que vinham detrás de mim, mas havia mais 2 focos menores à direita) de 5 senhoras "profissionais".
O gajo tá a exagerar podem pensar.... Mas é que não era a gargalhada típica, alias, era a gargalhada típica dum filme com o Jim Carrey.
Gostava de ler um exame de uma destas "bimbas", cuja educação no mínimo será uma licenciatura e procurar uns erros de português...
A estas "profissionais" desejo-lhes votos de uma vida feliz, até porque pegou moda explorar miséria humana na TV, quando se sentirem em baixo não hesitem: balde de pipocas, sofá, perninhas levantadas e pumba umas gargalhadas valentes. A box da Zon grava e a da Meo até já da parar gravar numa TV e ver noutra!
Não me pareceu estar lá nenhum universitário. Faltei a uma aula e fui. Não sou de Serviço Social e não entendo esses onde estavam. É bom ver futuros profissionais com iniciativa própria e os seus respectivos professores bem informados e prontos a sugerir eventos aos seus alunos.
Não fiquei para o debate, tive pena mas não podia faltar a 2 aulas. Além disso não quis ver o realizador embaraçado quando não soubesse responder às "profissionais" atrás de mim quando estas lhe perguntassem que mala Louis Vuitton sobressai melhor no grande ecrã.
Talvez esteja a ser um pouco áspero. Talvez tenha sido a vida a me deixar áspero. Talvez seja o facto de já ter visto amigos morrer às mãos da droga, por ainda hoje ver outros a se matarem lentamente ou de ter conhecido pessoas naquelas condições que me tenha deixado áspero. Pode haver outras razões.
Talvez pela câmara de Lisboa ir lavar a estrada onde estas pessoas pernoitam 4 e 5 vezes seguidas na semana para deixar tudo encharcado (como um sem-abrigo denunciou no filme) que me deixe áspero ou talvez, e esta já vem do meu próprio conhecimento, eu esteja áspero por ouvir o "Sócratus" dizer na TV que no Natal tinha distribuído não sei quantos cobertores aos sem abrigo, quando o que foi feito foi RECOLHER tudo o que era cartões e cobertores dos locais habituais. Talvez esteja a ser um pouco áspero. Talvez tenha sido a vida a me deixar áspero. Talvez a miséria que vi pela Europa fora deixou-me áspero. Talvez, mas talvez tenha sido outra coisa qualquer.
Queria agradecer (e já devia tê-lo feito antes) a presença do Bispo do Funchal.
Revelou ser um Bispo que se preocupa com as ovelhas tresmalhadas, e mostrou interesse em saber como tentar que essas façam parte do rebanho novamente.
Mostrou ter interesse nos problemas sociais graves que foram documentados e provou aos que criticam a igreja que, existe de facto preocupação e uma reacção pró-activa da igreja nos problemas sociais....
Alguém acreditou nesta merda que eu rabisquei atrás?
O Bispo estava numa vídeo-conferência com o episcopado discutindo de que forma iriam proceder à transferência das responsabilidades dos crimes cometidos pela igreja nos últimos(?) tempos para cima dos homossexuais e a estratégia para a lavagem cerebral aos fieis.
Recuperar ovelhas tresmalhadas? Isso tem os seus custos. A igreja não pode disponibilizar recursos para ajudar pessoas! Trazer a imagem peregrina à Madeira custa dinheiro! Ela não vinha se não ficasse no Reid's em regime de pensão completa! E quem paga o mini-bar?
E o Governo também não pode fazer mais! Porra 10mil euros por dia ao Jornal da Madeira e ainda querem que ajudem as pessoas!
Cheguei à uns tempos a uma conclusão fenomenal e facilmente verificável:
A Madeira não tem pobreza, não existe cá problemas de alcoolismo muito menos de droga, somos a democracia perfeita e como tal um exemplo para vários países (africanos). Além destes existem outros inúmeros flagelos aos quais a Madeira escapa completamente, o que me leva à minha conclusão:
Quando uma pessoa (boa) morre, não vai para o céu. Ela vem direitinha para a Madeira.
E a TAP até faz um reembolso especial! (Mediante comprovação de óbito apresentada pelo próprio.)
Muitas destas pessoas testemunharam estar a serem castigadas por deus por coisas que fizeram, e aceitavam-no completamente. Mas a verdade é que muitas destas pessoas já estiveram no purgatório tempo suficiente e precisam mesmo de uma ajuda que tarda a chegar. (Já agora se vos derem as chaves, prata primeiro a de ouro depois.)
E já que uma entrevistada revelou adorar Bergman, vou comparar as pessoas que diariamente lutam para ajudar estas pessoas ao "Antonius Block". Não se cansam de fazer as perguntas, mesmo quando sabem que nunca vão ter as respostas. Tomara o vosso jogo de xadrez salve muitos "actores".
Fernando Moedas: "Fazias isso?" (Se virem o filme, vão perceber o porquê do excerto. São 108minutos resumidos em 2 palavras.)
Se o filme não fosse português e o António Variações nunca tivesse escrito a música "Sempre Ausente" a música para o final seria do Sr. Tom Waits.
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